sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

ASA DE CORVO



Asa de corvos carniceiros, asa
De mau agouro que, nos doze meses,
Cobre às vezes o espaço e cobre ás vezes
O telhado de nossa própria casa...

Perseguido por todos os reveses,
É meu destino viver junto a essa asa,
Como a cinza que vive junto á brasa,
Como os Goncourts, como os irmãos siameses!

E com essa asa que eu faço este soneto
E a indústria humana faz o pano preto
Que as famílias de luto martiriza...

E ainda com essa asa extraordinária
Que a Morte - a costureira funerária
- Cose para o homem a última camisa!


Augusto dos Anjos

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O valor de uma amizade




Numa aldeia vietnamita, um orfanato dirigido
por um grupo de missionários, foi atingido por um bombardeio.
Os missionários e duas crianças tiveram morte instantânea
e as restantes ficaram gravemente feridas.
Entre elas, uma menina de 8 anos, considerada em pior estado.
Foi necessário chamar ajuda por uma rádio e depois de algum tempo,
um médico e uma enfermeira da Marinha dos EUA chegaram ao local.
Teriam que agir rapidamente, senão a menina morreria
devido aos traumatismos e à perda de sangue.

Era urgente fazer uma transfusão, mas como?
Após alguns testes rápidos com o próprio pessoal da equipe
de socorro, puderam perceber que ninguém ali possuía o sangue
que a menina precisava.
Reuniram, então, o povo da aldeia e, tentaram explicar
o que estava acontecendo, gesticulando,
“arranhando” o idioma que era difícil para eles.
Queriam dizer que
precisavam de um voluntário para doar sangue.
Depois de um silêncio sepulcral, viu-se um braço magrinho
levantar-se timidamente.
Era um menino chamado Cheng.

Ele foi preparado às pressas ao lado da menina agonizante
e espetaram-lhe uma agulha na veia.
Ele se mantinha quietinho e com o olhar fixo no teto.
Passado um momento, Cheng deixou escapar um soluço e tapou
o rosto com a mão que estava livre.
O médico perguntou a ele se estava doendo e ele disse que não.
Mas não demorou muito a soluçar de novo, contendo as lágrimas.
O médico ficou preocupado e voltou a lhe perguntar,
e novamente o menino negou.
Os soluços ocasionais deram lugar a um choro
silencioso mas ininterrupto.
Era evidente que alguma coisa estava errada.
Foi então que apareceu uma enfermeira vietnamita
vinda de outra aldeia.
O médico, então, pediu que ela procurasse saber
o que estava acontecendo com o menino Cheng.

Com a voz meiga e doce, a enfermeira foi conversando com ele
e explicando algumas coisas, e o rostinho do menino foi se aliviando…
minutos depois ele estava novamente tranqüilo.
A enfermeira então explicou aos americanos:
“Ele pensou que ia morrer.
Não tinha entendido direito o que vocês disseram e estava achando
que ia ter que dar todo o seu sangue para a menina não morrer”.
O médico se aproximou dele e com a ajuda da enfermeira perguntou:
“Mas, se era assim, por que então você se ofereceu
para doar seu sangue?”
E o menino respondeu:

ELA É MINHA AMIGA.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pensamentos...



I


Se às vezes me deparo pensando

Vejo aquela ponte...

O céu no tom do mais puro azul refletido na água

A brisa ainda leve de inicio de verão.

Sento me, ali sobre as pedras, toca a água com os pés...

E somente admiro a paisagem...

Olha para a ponte novamente

Vejo me vestida de branco sobre ela

Aproximo da borda e então já estou sobre ela

De costas para...

Apenas um impulso e o corpo a cair

O corpo somente cai, sem fim...

E o pensamento some...

Volto para o carro e sigo...

Mas este pensamento voltará toda vez que passar sobre aquela ponte.



II


Decidi tornar me sóbria, pois a loucura que consome tornou se a fúria em mim...
Procurei buscar do alto as respostas para perguntas que agora não fazem o menor sentido...
Caminhei por entre espinhos, rasgaram me a carne, fizeram feridas, algumas cicatrizaram, outras ainda sangram...
Sonhei... Ah doces sonhos... Se tornaram minha feliz realidade e meus tormentos noturnos...
Andei, cai, me levantei e continuo...



Ana paula Quitério